Glossário

a

Adulto letrado

Todo aquele que valoriza o mundo das letras e sabe ler e escrever.

Afixação

Processo morfológico que consiste na associação de um afixo a uma base. Há vários tipos de processos de afixação. No domínio da formação de palavras complexas, os processos podem ser de derivação ou de modificação.

Afixo

Constituinte que ocorre obrigatoriamente associado a uma forma de base. Em português, os afixos subdividem-se em prefixos, sufixos e interfixos, consoante a posição que ocupam na estrutura da palavra. Os afixos podem participar em processos de flexão ou derivação.

Afixo derivacional

Afixo que permite formar novos radicais (complexos), determinando as suas propriedades gramaticais. Por exemplo, o sufixo -ic(o/a) permite formar um radical adjetival a partir de um radical nominal (cf. simbólico); o sufixo -ism(o) permite formar um radical nominal a partir de um radical nominal (cf. simbolismo); e o sufixo -iz(ar) permite formar um radical verbal a partir de um radical nominal (cf. simbolizar). No português, todos os afixos derivacionais são sufixos.

Afixo especificador

Afixo que preenche informação de natureza estritamente morfológica, como a vogal temática dos verbos (v. especificador morfológico), ou de natureza morfossintática, como os sufixos de flexão (v. especificador morfossintático). No português, os afixos especificadores são sufixos, exceto no caso da vogal de ligação dos compostos morfológicos (cf. -o- em ecossistema), que é um interfixo.

Afixo modificador

Afixo que permite gerar formas complexas (radicais ou palavras), mas que não determina as suas propriedades gramaticais – a sua função é a de introduzir uma alteração semântica. Por exemplo, o sufixo -inh(o/a) permite formar um radical complexo categorialmente idêntico ao radical a que se associou, mas que é um hipónimo da base, que é uma palavra que tem um significado mais restrito do que o da base (cf. novinho é ‘um hipónimo de novo’; casinha é ‘um hipónimo de casa’; cedinho é ‘um hipónimo de cedo’). No português, os afixos modificadores podem ser prefixos (cf. ligardesligar) ou sufixos (cf. dedodedão).

Alomorfia

A alomorfia diz respeito à alternância entre formas distintas de um mesmo morfema. Por exemplo, o sufixo -vel, que forma adjetivos a partir de bases verbais, tem esta forma quando ocorre no final da palavra (cf. elegível). No plural, este sufixo tem um alomorfe que é -vei (cf. elegíveis). E quando faz parte de uma palavra complexa com o estatuto de radical, tem um outro alomorfe que é -bil (cf. elegibilidade).

A alomorfia pode afetar qualquer constituinte. Por exemplo, a palavra arenoso contém uma forma alomórfica do radical de areia.

Ataque

Consoante inicial da sílaba (exemplo: “voz”; “rio”). Um ataque complexo contém duas consoantes iniciais da sílaba (exemplo: flor; gruta; cobra).

Atraso da linguagem

Diz-se que existe atraso da linguagem quando a capacidade de compreensão e expressão linguística diferem significativamente do esperado para o nível etário.

Autorregulação

Capacidade para controlar os pensamentos e ações a fim de alcançar determinados objetivos e/ou para responder às solicitações do meio ambiente.

c

Caligrafia

Forma gráfica particular como uma pessoa letrada escreve à mão. A caligrafia pode ser vista como uma arte e, nesse sentido, ter propriedades estéticas, mas não é essa a componente que deve ser mais valorizada na aprendizagem inicial da escrita. As características que parecem ser inicialmente mais críticas são a rapidez e a legibilidade.

Coarticulação

Modo como o sistema de fala organiza a produção de sequências de vogais e consoantes, envolvendo mais do que um ponto do trato vocal, entrelaçando os movimentos articulatórios necessários para a produção de cada fone (unidade menor dos sons da fala, tal como os ouvimos) num todo coerente.

Note-se que os “r” de “cara” e de “carta” são dois fones percetivamente diferentes pelo facto de um preceder uma vogal e o outro uma consoante oclusiva mas correspondem a um único fonema. Têm o mesmo valor fonológico, isto é, não permitiriam distinguir entre palavras na nossa língua.

Codificar

Representar a fala, e outras dimensões da linguagem como a morfologia e a acentuação, através de correspondências entre fonemas e grafemas, incluindo conhecimento sobre padrões ortográficos como, por exemplo, restrições posicionais (o <rr> nunca ocorre no início da palavra; o <t> nunca ocorre no final de sílaba), ou o uso de acentos gráficos.

Composição

Processo morfológico que consiste na associação de dois ou mais lexemas (radicais ou palavras). Há vários tipos de composição. A composição morfológica associa um radical a outro radical (cf. ecologia) ou a uma palavra (cf. ecossistema). A composição morfossintática associa duas ou mais palavras (cf. casa-museu, corta-fogo). A composição sintática compreende todos os casos de lexicalização de duas ou mais palavras, ou de um radical e uma palavra (por do sol).

Composicionalidade

Propriedade das palavras complexas, que se verifica quando a forma e o significado da palavra complexa podem ser integralmente calculados a partir da forma e do significado dos seus constituintes. A perda da composicionalidade (formal ou semântica) leva à lexicalização das palavras complexas.

Todas as palavras formadas por processos morfológicos de derivação, modificação ou composição são, no momento da sua formação, composicionais. O uso dessas palavras por sucessivas gerações de falantes desencadeia frequentemente fenómenos de lexicalização.

Composicionalidade

Propriedade das palavras complexas, que se verifica quando a forma e o significado da palavra complexa podem ser integralmente calculados a partir da forma e do significado dos seus constituintes. A perda da composicionalidade (formal ou semântica) leva à lexicalização das palavras complexas.

Todas as palavras formadas por processos morfológicos de derivação, modificação ou composição são, no momento da sua formação, composicionais. O uso dessas palavras por sucessivas gerações de falantes desencadeia frequentemente fenómenos de lexicalização.

Compreensão oral

Capacidade da criança para entender o que lhe é dito. Envolve a receção de uma cadeia de sons da fala, a segmentação da cadeia sonora na base de unidades com significado e a respetiva interpretação do significado. Frequentemente, distingue-se a capacidade de compreensão linguística da criança quando esta interage com as pessoas com quem convive habitualmente da sua capacidade de compreensão quando está noutros contextos.

Conceitos sobre a escrita

Conhecimentos que as crianças adquirem sobre as formas, as convenções e os usos da escrita.

Conhecimento lexical

Conjunto de representações fonológicas e semânticas das palavras que conhecemos e usamos. Está diretamente associado ao conhecimento conceptual, já que não se aprendem apenas palavras, mas conceitos, pelo que o conhecimento lexical acompanha o conhecimento geral.

Conhecimento morfossintático (gramatical)

Conhecimento da forma e estrutura interna das palavras (morfologia) e das regras de organização das palavras em frases (sintaxe) para expressar proposições ou significados relacionais.

Conhecimento pragmático

Conhecimento dos objetivos da comunicação e da linguagem no seu uso de acordo com a interação existente entre quem fala e quem ouve, do contexto da fala (situacional, discursivo, ...) e dos elementos socioculturais em uso. 

Consciência fonológica

Capacidade de um indivíduo prestar atenção às unidades fonológicas da linguagem e eventualmente efetuar transformações nelas. Neste caso, fala-se de habilidades metafonológicas. Estas unidades vão da sílaba ao fonema. A consciência fonémica é a forma de consciência fonológica que se tem dos fonemas.

Consciência morfológica

Capacidade de identificar os constituintes das palavras e utilizar os processos de formação de palavras.

Consistência contextual

Refere-se ao facto de a associação grafema-fonema ou fonema-grafema depender do contexto ortográfico em que ocorre, isto é, da letra ou grafema precedente ou seguinte. Por exemplo, o grafema <r> entre vogais é 100% consistente: lê-se sempre /r/; o mesmo grafema no início de palavra lê-se sempre /R/; as vogais nasais antes de <p> ou <b> são 100% consistentes: escrevem-se sempre com <@m>.

Consoantes fricativas

São consoantes formadas quando o ar passa por um canal estreito feito pela colocação de dois articuladores próximos um ao outro (exemplo: lábios e dentes; língua e palato mole) formando um impedimento semicompleto da cavidade oral, de modo a causar estridência audível (exemplo: /s/, /z/, /ʃ/, /ʒ/).

Consoantes líquidas

São aquelas que estão próximas das vogais, como é o caso de /l/ e /r/, e que, além disso, combinam com as oclusivas ou com a fricativa /f/, como em “placa” e “prata”.

Consoantes oclusivas

Também chamadas consoantes explosivas ou consoantes plosivas, são aquelas que se pronunciam pela expiração do ar bloqueado por um obstáculo bucal ou pela glote, que interrompe momentaneamente a sua corrente, e que acaba "explodindo" quando aberto. Exemplo: /b/, /d/, /g/, /k/, /p/, /t/.

Constituinte morfológico

Unidade que integra uma estrutura morfológica. São constituintes morfológicos terminais os radicais simples e os afixos, que são unidades lexicais, e estruturas morfológicas como os radicais complexos ou o tema. Alguns constituintes morfológicos, como os radicais, são portadores de informação semântica (cf. cant – a – r); outros, como os sufixos especificadores temáticos, não têm qualquer papel semântico associado (cf. cant – a – r).

Correspondência fonológica

Corresponde à conversão de um grafema num fonema.

d

Decodificar

Pronunciar palavras escritas aplicando o conhecimento das correspondências entre grafemas e fonemas, incluindo conhecimento sobre padrões de letras/grafemas como, por exemplo, <ci>, <gue>, <VsV>.

Derivação

Processo de formação de palavras complexas, que consiste na associação de um sufixo derivacional a uma base (radical, tema ou palavra).

Diacrítico

Sinal gráfico que se coloca sobre ou sob uma letra para alterar a sua realização fonética, ou para marcar qualquer outra característica linguística. Por exemplo, á, ç, õ.

Dificuldades da linguagem

Termo que sugere que a linguagem da criança se está a desenvolver de uma forma atípica, isto é, de um modo qualitativamente diferente do desenvolvimento linguístico da maioria das crianças. Assume-se, portanto, que uma dificuldade da linguagem é diferente de um atraso linguístico, apesar das evidências nesse sentido serem ainda limitadas.

Disgrafia

Caracteriza-se por uma dificuldade específica no domínio da caligrafia que afeta a legibilidade - quanto à forma, tamanho, espaçamento, alinhamento, traçado e ligação das letras - e a fluência/rapidez de escrita, apesar das condições educativas proporcionadas e da ausência de evidente neuropatologia ou perturbação sensoriomotora.

Dislexia

Perturbação de desenvolvimento específica da leitura, ou seja, ao nível da identificação das palavras escritas e sua correta decodificação. Pode ser adquirida ou de desenvolvimento. Na dislexia adquirida, as dificuldades são provocadas por uma lesão cerebral que leva à perda de capacidade de leitura anteriormente dominada. Na dislexia de desenvolvimento, as dificuldades surgem no próprio processo de aprendizagem e não podem ser atribuídas a problemas orgânicos, sensoriais ou motores, nem a perturbações psiquiátricas ou falta de condições sociais. 

e

Efeito de Stroop

Resultado da interferência de uma resposta preponderante relativamente a uma resposta pretendida devido a uma incongruência a nível do estímulo. Na forma original, refere-se à interferência causada pela palavra escrita numa tarefa de nomeação de cores, em que a cor da palavra não corresponde à palavra escrita. Por exemplo, “verde” escrito a vermelho. Foi descoberto por um psicólogo chamado J. Ridley Stroop e publicado pela primeira vez em 1935. É hoje usado para fazer uma avaliação sumária do estado cognitivo, pois permite estimar a capacidade de inibir uma resposta não pretendida (função executiva), e como medida de rastreio de disfunção cognitiva.

Envolvimento na leitura

Envolvimento é o que acontece quando uma criança, ou um adulto, se concentra de tal forma na leitura de um texto que vai captando as sucessivas mensagens propostas pelo autor e deixa que lhe ocupem totalmente a consciência tanto no plano cognitivo como emocional. No caso de uma narrativa, o leitor mergulha no enredo, toma partido, alegra-se ou sofre com o que afeta as personagens, antecipa acontecimentos, põe hipóteses de desfecho.

Envolvimento parental

Estímulo da aprendizagem ativa da criança e promoção de diferentes oportunidades para a sua aprendizagem em contexto familiar por parte dos pais.

Escalas do tipo Likert

Escalas usadas em questionários que contêm afirmações às quais os sujeitos respondem marcando o seu grau de concordância ou não concordância em relação às mesmas. Normalmente são usados cinco níveis de resposta (Exemplo: Nunca, Raramente, Algumas vezes, Muitas vezes, Sempre), embora alguns investigadores optem por sete ou nove níveis, dependendo do que está a ser avaliado.

Escrita alfabética

Tipo de escrita fonográfica, ou seja, em que a escrita representa os “sons” das palavras, em que cada carácter gráfico corresponde um fonema. Difere das escritas silábicas, também fonográficas, mas em que cada carácter corresponde a uma sílaba (exemplos conhecidos são os silabários Kana japoneses), e das escritas morfossilábicas ou logográficas, em que cada carácter corresponde a um morfema/palavra (exemplos conhecidos são os kanji chineses).

Escrita inventada

Exercícios de escrita com crianças em idade pré-escolar a quem é pedido que escrevam palavras usando as letras que já conhecem. Estas práticas de escrita inventada parecem facilitar à criança a descoberta da relação entre a escrita e a fala e a mestria das convenções ortográficas.

Estrutura silábica

Constituição de uma sílaba em termos da sua sequência de vogais (V) e consoantes (C). 

Sem especificação em contrário, refere-se às sílabas faladas explicitando a sua estrutura fonológica. As sílabas constituídas por apenas uma vogal ou que terminam em vogal (V ou CV) são designadas como sílabas abertas, por exemplo “é-gua” e “-lia”.  As que terminam em consoante (VC, CVC) são designadas sílabas fechadas, por exemplo “Ar-lin-do” e “tar-ta-ru-ga”.

Etimologia

Estudo da origem e formação das palavras.

Expressão oral

Capacidade de estruturar uma mensagem linguística de acordo com as regras da língua e materializada na articulação de sons.

f

Flexão

Processo de variação de algumas classes de palavras, que é obrigatório e sistemático, ou seja, as palavras variáveis são obrigatoriamente formas flexionadas e a variação é sistematicamente obtida da mesma forma. Os processos de flexão atuam sobre o tema, por sufixação.

Flexão nominal

A flexão nominal é uma operação morfológica que opera sobre o tema dos adjetivos e dos nomes, gerando as formas do singular e do plural.

Flexão verbal

A flexão nominal é uma operação morfológica que opera sobre o tema dos verbos, gerando as formas do indicativo (presente, pretérito perfeito, pretérito imperfeito, pretérito mais que perfeito); do conjuntivo (presente, imperfeito e futuro) e formas que não se integram em nenhum destes modos (futuro simples e condicional). Todas estas formas flexionam ainda em pessoa-número. O infinitivo tem uma forma impessoal e um paradigma que também flexiona em pessoa-número. O gerúndio e o particípio passado não flexionam em pessoa-número.

Fluência de leitura

Capacidade de ler um texto ou palavras isoladas, com precisão, velocidade e expressividade adequadas.

Fluência na escrita

Indicador geral da eficiência com que um escritor pode produzir um texto, frequentemente expresso pelo número de palavras escritas por minuto (ppm).

Fonema

Representação que criamos na nossa mente sobre os “sons” mínimos, indivisíveis, que constituem as palavras (e.g. “b-a-r”/“m-a-r”; “m-a-r”/“m-a-l”; “m-a-l”/“m-i-l”; “ch-u-v-a”/“l-u-v-a”). Os fonemas não são realidades concretas de som. Por exemplo, o fonema /R/ (e.g., de “carro”) não é dito do mesmo modo por todos os portugueses. Uns dizem o /R/ com a ponta da língua a tocar a raiz dos dentes, outros dizem-no como se “arranhasse a garganta”. Essa diferença acústica (de som) é anulada na nossa mente, porque todos consideramos ser o mesmo fonema /R/.  Um fonema é, portanto, uma abstração que nos permite identificar os constituintes fonológicos mínimos das sílabas.

Fonética

Fonética é o estudo dos sons mínimos da fala. Analisa quais são categorias destes sons, que se designam por fones, como se caracterizam acusticamente (Fonética Acústica), como os produzimos (Fonética Articulatória) e percebemos. Tem como referente a linguagem na sua aceção mais geral enquanto característica da espécie humana, em vez de ter como objeto as especificidades desta ou daquela língua, que são tratadas na Fonologia.

Fonologia

Estudo dos sons das línguas, ou seja, como os sons da fala humana são usados no contexto da linguagem (falada): que tipos de sons são usados em cada língua ou famílias de línguas, e como eles são combinados. É, por isso, um componente da linguagem que envolve o processamento dos sons da fala. As regras de combinação dos sons de uma determinada língua são as regras fonotáticas dessa língua. A fonologia distingue-se da fonética, que estuda os sons da fala (quais são as categorias de sons da fala, como os produzimos e percebemos), tendo como referente a linguagem enquanto característica universal da espécie humana.

Forma (ou representação) fonológica da palavra

Representação mental, ou memória, dos sons que constituem uma palavra e da sua respetiva sequência ou combinação.

g

Grafema

Unidade do sistema de escrita que representa um fonema. Um grafema pode ser uma letra simples, como <p>, <u>, <h>, pode ser uma letra com diacrítico, como <ó>, <ã>, <ê>, <ç> e pode ser duas letras, como, <ch>, <ss>, <on>, <hi>. Um ditongo, como por exemplo, <ai>, não é um grafema, mas sim dois, porque representa dois fonemas, a vogal /a/ e a semivogal /j/.

Grafema complexo

Diz-se de um grafema que é constituído por mais do que uma letra: pode ter duas letras, ou uma letra combinada com um diacrítico. Opõe-se a grafema simples, que é constituído por uma só letra.

i

Inconsistência ortográfica

Relação múltipla entre partes de fala e sequências ortográficas, na direção da leitura, da escrita ou das duas, na ortografia de uma determinada língua.  A mesma letra ou conjunto de letras lidos de maneiras diferentes, o mesmo “som” ou conjunto de “sons” escritos de maneiras diferentes. Exemplos em português: a sequência <qu> lida /k/ ou /kwa / (“quente, frequente”); a vogal (falada) /i/ escrita com <e> ou <i> (“elástico, ilusão”).

Inventário fonético

Conjunto das consoantes e vogais que são usadas numa determinada língua. O inventário fonético do português conta com nove vogais orais (/á, â, é, ê, e, i, ó, ô, u/), cinco vogais nasais (ã, ~e, ~i, õm ~u), duas semivogais orais e duas nasais (/j, w, ~j, ~w/, como nas palavras pai, pau, mãe, mão), e 19 consoantes (/p, t, k, b, d, g, m, n, nh, r, rr, f, s, ch, v, z, ge, l, lh/).

Irregularidade ortográfica

Situação em que não é possível predizer com exatidão a leitura ou a escrita correta de uma palavra de determinada língua através de regras explícitas e bem definidas sobre a relação entre letras e sons/fonemas.

l

Leitura

Processo cognitivo de extração e de construção de significado (literal e inferencial) a partir de um discurso linguístico representado num texto escrito. Trata-se de um processo dinâmico e interativo, em que o leitor acede à informação textual através da construção ativa representações mentais com sentido. Na perspetiva do modelo simples de leitura, a leitura com compreensão (ou compreensão leitora) é o resultado da combinação multiplicativa de duas habilidades: o reconhecimento de palavras e a compreensão oral.

Leitura partilhada

Atividade em que a criança e o adulto se envolvem ativamente na leitura e exploração de um livro.

Lexicalização

Processo de perda da composicionalidade das palavras complexas.

Lexicalização

Processo de perda da composicionalidade das palavras complexas.

Léxico mental

Representações em memória que cada indivíduo tem sobre as palavras que conhece. Constructo originário da Psicolinguística Cognitiva para dar conta do conhecimento específico que os falantes de uma determinada língua têm sobre as formas de palavras faladas que foram aprendendo ao longo da vida, e que incorpora também as formas de palavras escritas, no caso de ter aprendido a ler e a escrever. Uma noção próxima é a de léxico ortográfico.

Literacia

Literacia é o conjunto de competências cognitivas que permitem o domínio da leitura da escrita, i.e., a compreensão do significado, a interpretação pessoal dos textos e o uso da leitura e da escrita na vida quotidiana, fator condicionante do bem-estar individual e do desenvolvimento social. Literacia é também o indicador estatístico que permite comparar níveis de desempenho na leitura e na escrita entre diferentes populações, recorrendo a estudos de avaliação.

Literacia emergente

Competências, conhecimentos ou atitudes da criança que são úteis e percussoras da leitura e da escrita.

Lugar (ou Ponto) de articulação

Onde um som mínimo da fala (fone) é articulado. Por exemplo: com os dois lábios (bilabial), com o ápice (ponta) da língua junto aos incisivos (dental), aproximando a parte posterior da língua à parte posterior do palato (velar).

m

Memória de trabalho

Sistema cognitivo que armazena uma quantidade limitada de informação que fica disponível temporariamente, por poucos segundos, para ser aplicada ou transformada de modo a apoiar a realização de uma tarefa. Manter em memória uma sequência de fonemas, ao mesmo tempo que converte outros grafemas em fonemas, para finalmente juntar todos e ler uma palavra escrita é um exemplo do uso da memória de trabalho. Um outro exemplo é manter em memória uma sequência de palavras para extrairmos o significado de uma frase. 

Meta-análise

Conjunto de técnicas de revisão estatística que possibilitam calcular a magnitude de um efeito entre estudos que reportaram esse efeito, como, por exemplo, a influência da leitura na escrita.

Metacognição

Capacidade para refletir sobre , entender e controlar a própria aprendizagem. Implica pensar sobre o próprio pensamento.

Metacompreensão

Capacidade para refletir sobre a própria compreensão. Exemplo: por que razão inferi que....

Metáfora

A metáfora é um recurso expressivo que produz sentidos figurados através de comparações. Exemplo: “A neve bailava no peitoril da janela”.

Modelo letrado

Modelo de aprendizagem social de comportamentos de leitura e escrita.

Modificação

Processo de formação de palavras complexas, que consiste na associação de um afixo de modificação (prefixo ou sufixo) a uma base (radical ou palavra).

Monitorização da fluência de leitura

Avaliação no sentido de identificar se se registam progressos depois de uma avaliação inicial e de uma intervenção.

Morfema

Unidade mínima de sentido numa determinada língua. Os morfemas podem ter significado lexical (referente extralinguístico) ou gramatical (referente linguístico), podem também ser vocábulos independentes ou estar obrigatoriamente ligados a um radical, sendo assim respetivamente classificados como livres ou presos. Um morfema pode corresponder a uma palavra. Neste caso, diz-se que a palavra é morfologicamente simples ou mono-morfémica, ou seja, tem um só morfema. Por exemplo, “mar”. Mas há palavras que são constituídas por mais do que um morfema; são pluri-morfémicas ou morfologicamente complexas. Por exemplo, “mares”, tem a ideia de mar e a ideia de mais do que um ou plural, representa-se mar+(e)s; a palavra "inútil" é constituída pelo radical "útil" e pelo prefixo de negação "in-".

Morfologia

Disciplina da linguística que descreve e analisa a estrutura interna das palavras e os processos morfológicos de variação e de formação de palavras.

Motivação

Motivação é a predisposição individual para realizar uma atividade ou atingir uma meta. Configura a probabilidade de alguém escolher uma atividade em vez de outra, bem como o esforço que irá investir e a persistência na ação.

n

Nomeação, Tarefa de

Tarefa que consiste em identificar um determinado estímulo, dizendo o nome que lhe corresponde.

Número

Categoria da flexão nominal, que realiza um de dois valores: o singular (que quantifica uma unidade) e o plural (que quantifica mais do que uma unidade).

o

Ortografia

Forma escrita que uma determinada comunidade convenciona como sendo a forma correta de representar uma palavra falada. Nas ortografias alfabéticas, a sequência de letras convencionada como a forma escrita correta de uma palavra falada.

Ortografias consistentes / inconsistentes

Uma ortografia caracteriza-se pelo grau de variação que apresenta nas relações entre letras ou grafemas e fonemas. Numa ortografia consistente, estas correspondências aproximam-se do princípio “um grafema – um fonema” e vice-versa, “um fonema – um grafema”. São exemplos o finlandês e o turco. Ao contrário, numa ortografia inconsistente, as relações entre grafemas e fonemas são muito irregulares. Cada grafema pode estar associado a vários fonemas e cada fonema a vários grafemas. São disso exemplos o inglês e o francês. A ortografia portuguesa é considerada como tendo uma consistência intermédia. Embora registe uma grande percentagem de relações consistentes entre grafemas e fonemas, apresenta também algumas irregularidades: por exemplo, lê-se de maneira diferente em e em ; o fonema /z/ pode ser escrito com <z>, <s>, <x>, como em , , , .

p

Palavras complexas

Palavras cujo radical é formado por mais de uma unidade lexical, ou seja, por um radical e um afixo ou dois radicais. As palavras complexas podem ser estruturas de afixação (derivadas, como rapid – ez, ou de modificação, como super-rápido) ou estruturas de composição (cf. epidemi – o – log (ia)).

Palavras excecionais

São aquelas em que um componente se lê ou escreve de uma maneira única. São exemplos as palavras "muito" e “arroz”. Em “muito” há uma nasalização do ditongo, inexistente na escrita, e em arroz, lê-se /oʃ/ quando em todos os outros casos se lê /ɔʃ/, e reciprocamente, na escrita, só a palavra “arroz” viola essa consistência.

Palavras simples

Palavras cujo radical é formado por uma única unidade lexical. As palavras simples podem ser formadas por um único constituinte morfológico (cf. café), quando não está presente nenhum sufixo temático nem flexional; pode ser formada por dois constituintes: o radical e um dos sufixos especificadores (cf. cas – a; café – s); por três constituintes, quando ao radical se junta um sufixo temático e um sufixo flexional (cf. cas – a – s); e até quatro constituintes, quando a flexão permite a ocorrência de dois sufixos, como sucede com os verbos (cf. cant – a – va – mos).

Paradigma

No domínio da linguística, os paradigmas são conjuntos de formas que podem ocupar uma mesma posição, alternativamente, numa dada estrutura. A flexão, por exemplo, organiza-se por paradigmas, como, por exemplo, o paradigma da flexão verbal, que inclui todas as formas flexionadas de um dado verbo.

Perturbação da aprendizagem específica com défice na expressão escrita

Trata-se de uma dificuldade específica caracterizada por défices na precisão ortográfica, na precisão gramatical e da pontuação, e/ou na clareza ou organização da expressão escrita.

Perturbações da linguagem

Termo que sugere que a linguagem da criança se está a desenvolver de uma forma atípica, isto é, de um modo qualitativamente diferente do desenvolvimento linguístico da maioria das crianças. Assume-se portanto que uma dificuldade ou perturbação da linguagem é diferente de um atraso linguístico, apesar das evidências nesse sentido serem ainda limitadas.

Pessoa-número

Categoria da flexão verbal, que concorda com o sujeito frásico. A primeira pessoa (eu / nós) corresponde ao locutor, a segunda pessoa (tu / você / vós / vocês / outras formas de tratamento como o senhor, a tia, etc.) corresponde ao interlocutor e a terceira pessoa refere qualquer entidade exceto o locutor e o interlocutor. O singular tem uma referência individual e o plural tem uma referência coletiva.

PIRLS

PIRLS designa o Progress in International Reading Literacy Study que avalia a literacia de Leitura dos alunos do 4.º ano de escolaridade. O estudo é desenvolvido pela IEA (International Association for the Evaluation of Educational Achievement) e foi aplicado pela primeira vez em 2001. Portugal participa neste estudo desde 2011. A avaliação da literacia de Leitura pelo PIRLS assenta numa noção abrangente do que é saber ler de modo a contemplar finalidades e processos de compreensão da leitura.

PISA

PISA designa o Programme for International Student Assessment, promovido pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico). Trata-se de uma avaliação em larga escala do nível de literacia dos alunos de 15 anos de idade em três áreas-chave: Leitura, Matemática e Ciências. A primeira avaliação teve lugar no ano 2000 e as aplicações do PISA ocorrem em ciclos de 3 anos.

Planeamento

Processo cognitivo da escrita que compreende o estabelecimento de objetivos, o gerar de ideias e a organização destas num plano de escrita.

Polissemia

Refere-se aos vários sentidos que uma palavra ou locução pode assumir. Exemplo: canto de uma sala e canto de um pássaro.

Prática de leitura

A prática de leitura refere a frequência e o modo como a leitura é realizada pelos indivíduos ou pelos grupos sociais. No plano individual a prática da leitura condiciona o processo de aprendizagem e o nível de literacia atingido por cada pessoa. No plano social constitui um indicador estatístico que, mediante estudos de avaliação, permite analisar trajetórias do desenvolvimento cultural e comparar populações.

Precisão ortográfica

Indicador sobre o número de palavras corretamente escritas, frequentemente expresso numa percentagem através da seguinte fórmula: (palavras corretamente escritas / total de palavras) * 100.

Priming

O priming é um fenómeno que resulta da exposição inconsciente a um estímulo que precede a exposição consciente ao mesmo ou a outro estímulo. O priming pode ser associado aos testes de decisão lexical ou a outras técnicas experimentais.

Princípio alfabético

Regra subjacente ao alfabeto segundo a qual as letras representam os "sons da fala" ou, de forma mais precisa, os constituintes fonológicos mínimos, indivisíveis, que constituem as palavras, os fonemas. 

Processo automático

Em Psicologia Cognitiva, um processo automático opõe-se a um processo controlado. Ocorre independentemente da nossa vontade e intenção, não exige controlo consciente, requer pouco ou nenhum esforço cognitivo, é eficaz e rápido. Supõe-se que não precisa de recursos cognitivos atencionais explícitos. Não interfere, ou interfere minimamente, com outros processos que ocorram em simultâneo: ocorre em paralelo com outras atividades. Exemplo: para um condutor experiente, mudar de velocidades num automóvel com caixa de velocidades manual.

Processo controlado

Em Psicologia Cognitiva, diz-se de um processo que requer atenção e esforço e é intencional, ou seja, inicia-se por intenção da pessoa. Ao contrário do processo automático (que é rápido), é lento e sequencial e não ao mesmo tempo, ou seja, em paralelo com outros. É o oposto de processo automático. Está associado à ideia de capacidade limitada e processamento de informação, segundo a qual o ser humano dispõe de uma capacidade limitada de recursos cognitivos no sistema mente-cérebro. Exemplo: mesmo para um condutor experiente, abrandar a velocidade e parar para emitir uma opinião fundamentada sobre um assunto vital de extrema importância.

Processo deliberado

Dependente de intenção prévia, não automático.

Promoção da leitura

Atividades destinadas a incentivar o contacto com livros, periódicos ou textos em suporte digital. Visa conseguir uma prática mais frequente, da qual decorre o aprofundamento de competências e o pleno domínio da leitura. Desenvolve-se em contextos educativo, cultural, familiar, e também nas áreas da saúde, da proteção social, etc.

Provas estandardizadas

Trata-se de testes (ou provas) em que os materiais, as instruções e a cotação são muito controlados. Os itens (tarefas) neles incluídos são criteriosamente selecionados para darem garantias de fidelidade e validade. Podem classificar-se como «referenciados a normas», quando os resultados são comparados aos resultados de um grupo de referência, ou «referenciados a critério» quando atendem a um nível (critério) pré-definido, a alcançar pelo sujeito.

r

Radical

O radical é um constituinte morfológico portador de informação semântica e gramatical. Todas as palavras têm, pelo menos, um radical.

Radical semântico

Constituinte da palavra, também designado morfema lexical, que mostra o sentido básico da palavra. Não inclui afixos de flexão mas pode incluir afixos derivacionais. Os radicais podem ter uma estrutura simples (constituídos por um único morfema) ou complexa (constituídos por mais do que um morfema).

Reconhecimento de palavras

Processamento de palavras (faladas ou escritas) de modo rápido e automático. No caso da leitura, e ao contrário da decodificação que envolve a aplicação de regras de correspondência entre grafemas e fonemas, o reconhecimento de palavras escritas faz uso direto da informação lexical que se encontra armazenada em memória. Distingue-se ainda da identificação de palavras, já que esta diz respeito a estratégias usadas para descobrir palavras novas/desconhecidas ou palavras que, apesar de conhecidas, não são acedidas automaticamente. O reconhecimento de palavras escritas refere-se antes à ativação e evocação instantânea e automática das representações ortográficas já existentes no léxico mental, o que por sua vez permite o acesso direto ao modo como se pronunciam e ao seu significado.

Recursividade

Propriedade das línguas naturais, que se revela em diversos níveis de análise. No domínio da morfologia, a recursividade verifica-se a partir da possibilidade de um processo de formação de palavras tomar como base uma forma que pode ser simples ou complexa. O sufixo de verbalização -iz(ar), por exemplo, pode escolher um radical adjetival simples como fragil- (cf. fragilizar) ou um radical adjetival derivado como verbal- (cf. verbalizar), que é um derivado do radical de verbo. A complexidade da base pode, aliás, incluir diversos níveis derivacionais:

part(e) -> particul(a)
particul(a) -> particular
particular -> particulariz(ar)

Redução vocálica

Fenómeno em que as vogais de uma palavra, nomeadamente as não acentuadas, são produzidas de maneira abreviada: pouco intensa, curta, e aproximando a posição dos articuladores à vogal neutra schwa (como o som final /e/ em “de”), em vez de articular claramente a qualidade distintiva da vogal (ou seja, por exemplo um /á/ ou /é/ são produzidos como se fossem o /e/ de “de”).

Relações entre leitura e escrita

Campo de investigação que estuda as influências recíprocas entre a leitura e a escrita.

Revisão

Processo cognitivo da escrita cujo objetivo é melhorar a qualidade do texto, para isso faz uso da leitura para detetar erros e da edição para os corrigir.

Rima

Parte de uma sílaba que contém a vogal e todos os constituintes que se lhe seguem. Exemplo: pé; sal; voz; cão; circo.

Ritmo das línguas

Expressão que designa o modo como varia a intensidade e outros aspetos prosódicos das sílabas ou partes de fala ao longo do tempo. Por analogia ao ritmo da música.

s

Sílaba

Parte da palavra que contém obrigatoriamente uma vogal (ou ditongo). Pode ter ou não uma consoante (ou duas) antes da vogal e/ou uma consoante depois da vogal. Exemplo: a-vó; sa-pa-to; pos-tal.

Sintaxe

Disciplina da linguística que estuda a forma como as palavras se combinam para formar unidades maiores. A unidade máxima de análise sintática é a frase.

Sonograma

Representação gráfica de um som mostrando as variações de pressão (na ordenada) ao longo do tempo (na abcissa).

Super-rima ou rima poética

Parte da palavra que inclui a vogal da penúltima sílaba e todos os constituintes que se lhe seguem (exemplo: rato-prato; vela - cancela; menino- pepino).

t

Tema

Estrutura morfológica formada pelo radical e pelo constituinte temático, pelo processo de especificação morfológica e que torna visível a classe temática a que pertence o radical.

Tempo-modo-aspeto

Categoria da flexão verbal, que combina informações de vários tipos. A informação temporal está relacionada com a relação entre a referência da predicação verbal e o momento da locução (cf. comprei / compro). A informação de modo relaciona-se com o contexto frásico: algumas formas só podem ocorrer em frases principais (cf. compro), outras surgem apenas em frases subordinadas (cf. compre). A informação morfológica de aspeto está essencialmente relacionada com os tempos do passado, estabelecendo uma distinção entre processos concluídos (cf. comprei) e processos cujo limite final não é marcado (cf. comprava).

Teste de decisão lexical

Técnica experimental que mede o tempo de resposta a estímulos lexicais. Os sujeitos devem escolher uma resposta (sim ou não), em função de uma dada pergunta, como por exemplo: considera que esta palavra é uma palavra do português?

Textualização

Processo cognitivo da escrita que compreende os processos pelos quais as ideias são traduzidas em linguagem e também como a linguagem é transcrita num suporte material externo.

Transcrição

Processo cognitivo pelo qual representações linguísticas na mente do escritor são externalizadas na forma de linguagem escrita. Engloba o conhecimento ortográfico e a caligrafia.

Tutoria/Ensino parental

Método de instrução formal das crianças por parte dos pais.

v

Vozeamento

Vibração das cordas vocais que é a abertura e fecho da glote em sequência muito rápida. Os sons que são produzidos com esta vibração são vozeados ou sonoros, e os que não a têm são não-vozeados ou surdos. Vozeadas são as vogais e consoantes como /b, d, g, v, ge/. Não vozeadas são por exemplo /p, t, k, f, ch/.