Histórias ao alcance de quem começa a ler

Quando as crianças começam a aprender a ler, é frequente terem vontade de pegar em livros e tentar compreender sozinhas os textos sem o apoio dos adultos. Para que não percam o interesse pela leitura é muito benéfico proporcionar às crianças momentos de leitura individual de livros que se encontrem ao alcance delas – obras que possam ser lidas na íntegra e lhes deem satisfação. Acontece que, no mercado português, não existem ainda livros adequados à leitura autónoma numa fase muito inicial da aprendizagem Os livros existentes, mesmo os dirigidos às crianças mais novas, não foram escritos com este propósito e, por isso, contêm letras e estruturas silábicas que a criança pode ainda não ter aprendido. O encontro com o que ainda não se aprendeu pode provocar uma sensação de desânimo e perda da motivação para a leitura anteriormente estimulada e adquirida na família e na educação pré-escolar.
Para dar a oportunidade aos mais pequenos de lerem sozinhos, pensámos em histórias que acompanhem os desejáveis progressos de leitura dos alunos do 1.º ano de escolaridade. Narrativas curtas e compreensíveis, textos com frases simples e palavras que incluem as correspondências letra-som (grafema-fonema) à medida que são aprendidas.

O desafio

As escritoras Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada aceitaram o desafio e criaram histórias que respeitam os constrangimentos decorrentes da introdução gradual das letras e incluem palavras e frases com determinadas características. São histórias destinadas a crianças do primeiro ano de escolaridade. Histórias cativantes e textos adequados à capacidade de leitura em cada momento do percurso de aprendizagem. Para a ilustração dos livros, foi convidado o designer gráfico Nuno Feijão, que há muitos anos mantém uma frutuosa parceria com as autoras.

A proposta

Os livros publicados oferecem histórias completas. Contudo, e é essa a sua originalidade e mais-valia, incluem apenas palavras compostas por conjuntos de grafemas-fonemas que as crianças, em três etapas do seu percurso, já aprenderam nas aulas.

Série 1

A informação e a revisão pedagógicas da primeira série de histórias ficaram a cargo de Fernanda Leopoldina Viana e Iolanda Ribeiro que realizaram o levantamento das sequências mais frequentes na introdução das correspondências letra-som (grafema-fonema), nos manuais escolares portugueses de maior circulaçãoNo 1.º patamar os textos apresentam palavras que contém apenas as primeiras letras aprendidas. São palavras curtas (duas a três sílabas), com sílabas simples (por exemplo, do tipo consoante-vogal, como "gato" e "Jato"). Gradualmente, nos patamares seguintes, são introduzidas palavras mais longas e novas estruturas silábicas (como consoante - consoante - vogal, exemplificando "gritavam"), que constituem um estímulo para o desenvolvimento da capacidade de leitura. Assim proporciona-se aos alunos muitas oportunidades para treinar de forma autónoma a decodificação.

Série 2

Nos livros da segunda série, as palavras que compõem as histórias foram selecionadas seguindo uma ordem diferente de introdução das letras.
A diferença na ordem de introdução das letras resulta da aplicação de um conjunto de princípios que a investigação científica tem demonstrado tornarem a aprendizagem da leitura mais fácil. Parte-se do mais simples, para só depois se introduzir o que é mais difícil e complexo. Esta nova sequência é válida para o ensino inicial da leitura em qualquer idade e tem em conta:

 -  O grau de consistência da relação letra - som (grafema - fonema). No 1.º patamar surgem predominantemente palavras com consoantes que têm apenas uma pronúncia possível (ex. F, fato, rifa) porque são mais facilmente aprendidas. No 2.º patamar são introduzidas as correspondências cuja pronúncia depende de regras posicionais ou contextuais (ex. S, sapo, casa, e luvas). No 3.º patamar aparecem as letras cuja pronúncia é inconsistente (ex. X, lixo, fixo, exame, máximo, sexto).
 -  A acessibilidade do fonema. As consoantes, cujos “sons” se podem prolongar (ex. F, fffffafffffá) são mais facilmente apreendidas pelos leitores principiantes do que aquelas cuja articulação interrompe totalmente a saída do ar na boca (ex. Ppato) e que por isso não podem ser pronunciadas separadamente da vogal. Por essa razão as consoantes mais acessíveis são as que aparecem no 1.º patamar.
 -  A complexidade dos grafemasNas histórias do 1.º patamar são apenas introduzidos grafemas simples (compostos por apenas uma letra). Apenas a partir do 2.º patamar são apresentados os grafemas complexos (ex., , , ). 

Tal como no primeiro conjunto de histórias, a seleção das palavras para a segunda série teve também em consideração a complexidade das estruturas silábicas e o comprimento das palavras.