1. Promover a compreensão leitora a partir do Modelo Simples de Leitura
O desenvolvimento da leitura pressupõe um ensino diferenciado e integrado das duas componentes que a determinam: o reconhecimento de palavras e a compreensão oral. Considerando a natureza multifatorial destas duas componentes, este ensino deve estar orientado para a promoção de cada uma das (sub)habilidades que compõem a estrutura das fundações cognitivas. Importa, aqui, salvaguardar que tal estrutura, apesar de hierárquica, nem sempre pressupõe um desenvolvimento serial das habilidades. Ainda que alguma mestria seja necessária para seguir em frente, muitas das habilidades e processos ocorrem em paralelo, facilitando-se reciprocamente. Ora, tal característica deixa antever a importância de um ensino das diferentes habilidades de modo mais integrado, e não incidindo apenas em componentes isoladas. Ainda assim, algumas habilidades têm de estar satisfatoriamente desenvolvidas antes de outras, de nível superior, poderem ser aprendidas. Na verdade, procurar desenvolver na criança uma habilidade de nível superior quando a de nível inferior, sobre a qual a mesma depende, se encontra subdesenvolvida, revelar-se-á seguramente uma estratégia ineficaz.
Para além da atenção que deve ser dada às duas componentes do modelo simples de leitura e às habilidades da estrutura das fundações cognitivas, importa não negligenciar a compreensão leitora propriamente dita. Assim, a instrução deve ter em consideração as exigências específicas da linguagem escrita, prevendo o ensino explícito de como ler com compreensão.
Em síntese, a compreensão leitora beneficiará de exercícios e atividades que, incidindo no desenvolvimento das habilidades fundacionais da leitura, tenham como finalidade:
Desenvolver a consciência dos segmentos dos sons da fala e das relações que estabelecem com as letras;
Ensinar a decodificar palavras, analisar estruturas sublexicais e escrever;
Ensinar habilidades linguísticas académicas, incluindo o uso de linguagem narrativa e inferencial e o vocabulário;
Ensinar explicitamente estratégias de compreensão (através, por exemplo, de questionamentos e da elaboração de resumos, mapas de histórias ou organizadores gráficos ou semânticos), em particular ações intencionais que podem ser usadas durante a leitura;
Fomentar a leitura diária de textos para apoiar a precisão leitora, a fluência e a compreensão.
2. Monitorizar a compreensão leitora a partir do Modelo Simples de Leitura
A avaliação e a monitorização do desempenho dos alunos é condição fundamental para um ensino sistemático e explícito da leitura. O estabelecimento de perfis de leitura para cada criança, através da identificação das suas forças e fraquezas logo desde os estádios iniciais da aprendizagem, é útil para guiar a instrução e introduzir os ajustes que se revelarem necessários no processo educativo. Se aplicada em momentos temporais precisos, esta monitorização permitirá identificar de entre os leitores aprendizes aqueles que se encontram em risco de não atingirem os objetivos de aprendizagem definidos para o seu nível de escolaridade.
Juntamente com a estrutura das fundações cognitivas, o modelo simples de leitura fornece ao professor uma base para a avaliação das crianças e para a monitorização dos progressos observados na aprendizagem da leitura. Esta avaliação deve distribuir-se pelas duas componentes contributivas da leitura, e respetivas (sub)habilidades, abarcando, ainda, de modo direto, a própria compreensão leitora. Assim, de modo formal ou informal, esta avaliação pode incluir:
Medidas de consciência fonémica, de conhecimento de letras e de associação letra-som;
Tarefas de leitura e de escrita de palavras e de pseudopalavras;
Tarefas de nomeação rápida e de fluência leitora (rapidez e precisão);
Medidas de vocabulário e conhecimento morfossintático;
Atividades inferenciais;
Testes de memória fonológica;
Reconto e exercícios de interpretação textual.
Autoria: Maria Inês Gomes Edição gráfica: Vera Antunes
Publicação: 22.janeiro.2024
Não raras vezes circunscrevemos a leitura à capacidade de traduzir as palavras escritas em palavras faladas. Primeiro ensinamos a criança a ler, a decodificar as letras em sons, mais precisamente nas menores unidades sonoras da fala, vogal ou sílaba, como por exemplo, /ovu/ para ‘ovo’. Só depois partimos para a compreensão do que é lido. Expressões como “leu, mas não compreendeu” ou “lê e interpreta” reforçam esta ideia de que a compreensão está para além da leitura. Mas será mesmo assim? Afinal, do que falamos quando falamos em leitura?
O desenvolvimento da leitura pressupõe um ensino diferenciado e integrado das duas componentes que a determinam: o reconhecimento de palavras e a compreensão oral, as quais devem ser ensinadas de forma integrada.