Professores e educadores têm muitas vezes que tomar decisões tendo em conta os níveis de desempenho dos seus alunos em leitura e escrita ou em capacidades precursoras da aprendizagem alfabética, de modo a monitorizar as trajetórias de aprendizagem e planear apoios quando necessário. Tais decisões devem decorrer da avaliação, em várias fases, a começar nas etapas iniciais que constituem os alicerces fundacionais da leitura e da escrita hábeis - o conhecimento de letras e a leitura e escrita de palavras. Essas decisões são mais exatas, i.e. menos sujeitas a vieses, quando são tomadas com base em avaliações realizadas com instrumentos apropriados. Este artigo apresenta uma explicitação sumária do rationale das provas da MABEL, Multilanguage Assessment Battery of Early Literacy, uma bateria que tem em conta o estado atual da investigação sobre a aprendizagem e o ensino da leitura e da escrita.
Objetivos
Compreender a relevância da avaliação dos processos psicológicos implicados nas fases iniciais da aprendizagem da leitura e da escrita e a utilidade dessa avaliação.
Material
A MABEL contém testes sensíveis e relevantes para avaliar as competências iniciais de leitura e escrita. Cada teste foi criado para ser paralelo (diretamente comparável) entre línguas (inglês, espanhol, checo, eslovaco, galês, português, ucraniano, francês e polaco). As competências avaliadas são: conhecimento de letras, consciência de fonemas, nomeação rápida, bem como leitura e escrita.
Descrição
Este manual consiste numa apresentação sucinta das razões que justificam a relevância da avaliação dos processos psicológicos implicados nas fases iniciais da aprendizagem da leitura e da escrita e a utilidade dessa avaliação para professores e educadores. Inclui também uma explicitação sumária do rationale da provas selecionadas da bateria MABEL, de Multilanguage Assessment Battery of Early Literacy, que foi desenvolvida no seio de uma equipa internacional tendo em conta a diversidade das línguas através dos vários países europeus, e o estado atual do conhecimento na chamada ciência da leitura, ou seja, a investigação metodologicamente sólida sobre a aprendizagem e o ensino da leitura e da escrita nas nossas sociedades.
O manual remete para o conjunto de testes e tarefas da versão portuguesa da bateria MABEL (Vale, Castro, Loff, Mikulajová, Defior, Málková, & Caravolas, 2022), onde são apresentados em detalhe os vários testes ou tarefas que a integram, e que incluem, em geral e para cada teste, os seguintes componentes: Instruções para Aplicação e Cotação; Folha de Cotação; e onde aplicável os Cartões de Treino e de Teste, a Folha do Participante e os Estímulos. Esses materiais encontram-se disponíveis no site da MABEL.
Autoria do recurso
Vale, A. P. & Castro (2024). MABEL: Avaliação da preparação e aprendizagem inicial da leitura e escrita. Fundação Belmiro de Azevedo.
Publicação: 25.setembro.2024
A avaliação com vista ao diagnóstico deve ser abrangente, incluindo não só a leitura, a escrita e capacidades que lhes estão associadas, mas também um conjunto diversificado de domínios cognitivos que podem estar prejudicados. É o balanço entre as áreas fortes e fracas, tanto ao nível do funcionamento cognitivo como académico, que vai contribuir para se traçar o perfil da criança e promover estratégias de intervenção personalizadas.
O princípio alfabético é o mecanismo de funcionamento dos sistemas de escrita alfabética. De acordo com este princípio, cada fonema é representado por um grafema. Compreender o funcionamento do princípio alfabético é a chave da aprendizagem da leitura e da escrita. O princípio alfabético é a base da decodificação/codificação, assim como a da aprendizagem do código ortográfico.
No início da aprendizagem, quer a decodificação (leitura) quer a codificação (escrita) exigem atenção e esforço. Não são processos imediatos. Mas é através deles que progressivamente se constrói essa fabulosa ferramenta mental que é saber ler e escrever sem esforço e com fluência.
A tomada de consciência dos fonemas envolve a compreensão de que os fonemas são partes na constituição das sílabas e, portanto, na constituição das palavras. A consciência dos fonemas desenvolve-se como consequência de um ensino explícito, habitualmente o ensino das letras aplicado a tarefas de leitura e/ou escrita, e é essencial para aprender a ler num sistema de escrita alfabética, como o nosso.
As letras são chaves para vários conhecimentos que alicerçam a aprendizagem da leitura e da escrita nas ortografias alfabéticas. Este texto discute a importância do nome das letras, do seu som e das correspondências grafemas-fonemas e fonemas-grafemas para possibilitar às crianças a descoberta do princípio alfabético.
O português é uma escrita alfabética – quando escrevemos, as letras mostram a sequência dos fonemas nas palavras. Mas nem sempre há uma correspondência fixa, de um-para-um, entre letra e som/fonema. As irregularidades do código tornam a aprendizagem, tanto da leitura como da escrita, menos linear e mais difícil.
Tal como ao aprender a andar de bicicleta nos tornamos capazes de ter equilíbrio sem pensar (automaticamente), também ao aprender a ler e a escrever ganhamos a capacidade de alguns processos funcionarem em piloto automático. É a aquisição de expertise, que nos torna mais autónomos e flexíveis.
Existem dois mecanismos cujo desenvolvimento deficitário compromete o objetivo último da leitura: a extração do significado do texto. Trata-se da conversão grafema-fonema e do reconhecimento visual automático das palavras. Dois tipos principais de dificuldade podem ser esperados: o leitor pode ter dificuldade na aprendizagem ou na automatização da conversão grafema-fonema e assim não consegue fazer uma leitura com precisão ou, mesmo tendo uma leitura com precisão, pode não conseguir ter uma leitura fluente.